24 de jun. de 2013

Laranja Mecânica: Rod Stewart ao vivo em Amsterdã


Após passar um bom tempo revisitando standards do repertório americano, do rock e até das canções de Natal em versões cheias de glicose para conquistar quarentões e cinquentões, Rod Stewart chegou a 2013 com seu primeiro disco autoral em doze anos, Time. Além de trazer canções inéditas de Rod the Mod, o novo trabalho ainda levou o cantor a buscar um repertório diferente do que apresentou ao vivo nos últimos anos, em uma turnê europeia que começou recentemente. No último Dia dos Namorados, essa turnê passou pelo Ziggo Dome, em Amsterdã, onde este blog teve a oportunidade de assisti-lo, torcendo para ver "Ooh La La" ou algum outro clássico dos Faces como se estivéssemos em 1973. 

A largada, porém, é feita a partir de 2013 mesmo, e empolga: "Can't Stop Me Now", segunda faixa de "Time", pode bem fazer par com os hits de Rod do final dos anos 70, e renovar o repertório das "Saudade FM" de todo o Brasil. Entretanto, alguma coisa parece fora de lugar: os muitos telões do Ziggo Dome, a quantidade excessiva de músicos de apoio (e musicistas também, trajadas com vestidos curtos para alegrar a porção masculina da plateia) e a voz do cantor, já não tão rasgada como outrora - é a velhice, fácil dizer, mas Stewart compensa a brincadeira com uma empolgação fora do comum para um senhor da sua idade (ok, Mick Jagger não conta, tá?). 

Mesmo o show sendo em uma arena em Amsterdã, parece que tudo está acontecendo em um cassino ou teatro qualquer de Las Vegas. E essa não é uma sensação gratuita, de maneira alguma: depois de anos brincando com o American Songbook, não seria de todo impensável que o escocês fã do Celtic (lembrado em uma projeção de palco inteira) aprendesse alguns truques com o mise-en-scène do show biz estadunidense, não é mesmo? Isso se explica pelos itens já citados, mas também pela postura de palco de Rod, pelas inúmeras trocas de roupa (pelo menos quatro ternos diferentes) e pela abordagem instrumental da coisa.

Um bom exemplo disso é o set acústico do show, recheado com três pérolas pop românticas de grande quilate: "The First Cut is a Deepest", "Have I Told You Lately" e "I Don't Wanna Talk 'Bout It", que poderiam ser muito bem encaradas apenas com um violão e a interpretação segura e emocional do cantor. Não é bem isso o que acontece: com intimismo forçado, as três músicas são executadas, em uma rodinha de violão canhestra, por dois violões, três backing vocals, uma mini-orquestra de cordas local e... uma harpa. Soa brega, e extremamente calculado para atingir os veteranos ouvintes lá do começo do texto, mas acaba por funcionar (mesmo que com 20% da intensidade possível). 

Outro momento simbólico do intercâmbio de Rod Stewart é "Hot Legs", na qual o ex-vocalista do Faces se reveza entre percorrer toda a letra da canção e chutar bolas de futebol autografadas pessoalmente (pelo menos é o que quer dizer a produção do espetáculo) para a plateia. Isso para não falar nos inúmeros solos instrumentais desnecessários, numa postura bastante paternalista, por assim dizer, de valorizar os músicos de apoio, ou na versão sem músculos do hino "Maggie May", ou na cover de Sam & Dave, "Soul Man", na qual Stewart deixa o palco para trocar de roupa e vê, da coxia, sua banda executar a canção. 

Há momentos em que toda essa espetacularização funciona bem - como na sentimentalidade de braços abertos de "Sailing" ou na farra completa (ainda que proposta pelo telão) de "Da Ya Think I'm Sexy", quando inúmeras bexigas caem do céu e colocam a diversão no primeiro plano. Mesmo assim, é pouco para um senhor que já destruiu a suíte presidencial do Copacabana Palace com uma partida de futebol, tocou rock como se fosse folk, folk como se fosse rock, colocou um pouco de soul na mistura e, com sua voz rasgada e marcante, transformou em clássicos canções obscuras de Van Morrison, Tim Hardin e Elton John. Não foi uma noite ruim, mas poderia ter sido melhor: afinal, você pode tirar o songbook do homem, mas não pode mais tirar do homem o que o songbook lhe ensinou.


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