17 de jun. de 2013

British Invasion: Londres, Um Amor

Existem algumas coisas bastante raras na vida: chegar a um lugar e querer abraçá-lo logo nos primeiros minutos é uma delas. Quando isso acontece com uma cidade que você sempre quis ir, a vida toda, desde que se entende por gente, é mais especial ainda. Isso foi Londres pra mim. Depois de cobrir o Primavera Porto pro Scream & Yell e voltar a Lisboa para fazer a última prova do semestre, desembarquei na capital inglesa a tempo de vê-la usar um vestido de verão irresistível, daqueles de derreter o coração de qualquer pobre mortal. 

There is a light that never goes out
Ao andar pelo centro da cidade, a primeira sensação é que alguém muito fominha estava jogando SimCity e resolveu colocar todos os pontos turísticos em um lugar só. Trocando em miúdos: é engraçado passar a vida toda ouvindo falar do Big Ben, da Abadia de Westminster, da Trafalgar Square, do Rio Tâmisa, do Parlamento, e chegar lá e ver que todos eles são um do ladinho do outro. Entretanto, pela vontade de não me programar com relação a nada e certo tédio em relação aos passeios batidos, confesso que deixei passar uma meia dúzia de coisas típicas da capital inglesa - como uma volta naquela roda gigante enorme, ou a troca da guarda no Palácio de (Peter) Buckingham.

Em compensação, descobri uma meia dúzia de coisas que fizeram valer a viagem - embora "descobrir" não seja o termo certo, porque foi o Marcelo Costa, com paciência de um monge tibetano e a experiência de um guia de viagens veterano na cidade, quem me mostrou quase todas esses lugares incríveis. O Borough Market, por exemplo, um mercado (dã) cheio de cheiros incríveis e cores mais ainda, ótimo pra encarar uma torta inglesa ou um típico fish & chips (uma comida que não tem como dar errado, embora eu ainda seja mais a pescadinha frita lá de casa). 

Outro rolê bacana: dar uma volta de barquinho pelo Tâmisa - pelo transporte público, custa 6 libras, mas dá pra incluir isso na taxa diária do Oyster (o bilhete único deles), que custa 7. Recomendo muito o passeio entre a Tate Britain e a Tate Modern, dois museus bacanas da cidade. O primeiro tem um acervo que vai até o final do século XIX, com destaque para uma coleção massa do Turner, e o segundo é um apanhadão de arte moderna e contemporânea pra ninguém botar defeito: minha coisa favorita de lá, porém, foi uma cartinha fofa que o Georges Braque mandou pra mãe

The word is on the street, já dizia o Oasis
Por falar em museus, devo confessar que não tive muita paciência para conferir o acervo de boa parte deles. (Em um resumo rápido: fui ao British pra ver a Pedra de Roseta e a cúpula do Norman Foster, dei uma passada rápida na National Portrait Gallery e na sua irmã maior, a National Gallery, sem grandes destaques, e acabei por pular a exposição do David Bowie no Victoria & Albert). É um pouco de preguiça e desleixo, eu sei, mas a verdade é que as coisas mais legais de Londres estão na rua - ou num pub. 

Assim como São Paulo e Barcelona, Londres tem uma energia cosmopolita cultural que envolve - e que é facilmente sentida nas ruas. Todo lugar te remete a um filme, uma música, uma banda favorita (e não dá pra pisar em qualquer calçada londrina sem lembrar do Clash, do Blur, dos Rolling Stones e dos Beatles, pra ficar só em quatro bandas, hehe). 

Lelê Harrison e Noa McCartney - cadê o cigarro?
É uma cidade tão massa que até mesmo atravessar uma rua é uma coisa inesquecível - pois é, amigos, chorei feito um bebê ao imitar Billy Shears atravessando a Abbey Road. A emoção já seria forte só por ter estado no mesmo lugar que os Beatles estiveram tantas vezes, mas é mais que isso: repetindo o que o Lester Bangs disse à época da morte de John Lennon, porém sem ser tão cruel, eu não chorava por eles, mas sim por mim mesmo, pelos amigos, amores e família que tantas vezes marcaram as canções dos garotos de Liverpool. (E a vontade era ficar lá pra sempre, só vendo a galera atravessar a rua, enquanto o gentil cara cheio de dreads na cabeça se prontificava a tirar foto de todas elas). 

Foram só quatro dias, mas ao escrever esse texto atrasado, uma semana depois de ter deixado Londres, a sensação é que foram muitos mais. 

E olha que eu nem falei do grande show do Elvis Costello no Royal Albert Hall, de beber água do Tâmisa (aviso: tem gosto de torneira, risos), do passeio em Bricklane (ou seria em Bombaim?), do piquenique no St. James' Park (vivendo a tal "Parklife" de que tanto fala Damon Albarn) e de caminhar por Portobello Road ouvindo o reggae me sentindo completamente vivo (alô Caetano!). 

Foi amor, só amor, embora eu sei que eu tenha dado sorte de conhecer a cidade em dias quentes e sem chuva. Mas toda paixão tem um pouquinho de sorte e coincidências - e eu saio já planejando quando voltar. Como diria Tom Petty, "the waiting is the hardest part". See you soon, London ;)

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