5 de mai. de 2013

Ó, Pá: Uma Noite na Queima das Fitas de Coimbra

Todos os anos, milhares de estudantes se formam em seus cursos superiores. No Brasil, essa passagem é celebrada com colações de grau, festas de arromba e garotas cheias de maquiagem dançando ao som de escolas de samba (risos), mas aqui em Portugal a coisa é um pouco diferente. Claro que há os jantares e as festas de gala, e toda a parte formal do recebimento dos diplomas, mas além disso, existe a Queima das Fitas, um conjunto de atividades que inclui uma serenata de fado e, nas maiores universidades, uma semana acadêmica recheada de festas e shows musicais. 

Em Coimbra, a mais tradicional das queimas, é comum ver artistas internacionais na programação (em 2012, por exemplo, teve Hives, e no ano anterior, Editors, Marcelo D2 e James), além de grandes nomes portugueses. Em 2013, a festa não começou diferente: no último sábado, a Praça da Canção, às margens do Rio Mondego, viu uma bela exibição daquela que é, pelo menos em termos de público, a maior banda lusitana de sempre: os Xutos e Pontapés. 

Mais ou menos conhecidos no Brasil pelas parcerias com o Titãs (além de tocarem juntos no Rock in Rio 2011, o grupo paulista ainda gravou "Circo de Feras", hit maior dos Xutos, em seu álbum As Dez Mais), Kalú (bateria), Tim (baixo e voz), João Cabeleira (guitarra), Zé Pedro (guitarra) e Gui (saxofone) fizeram um show intenso em Coimbra, contando com forte apoio do público - aquele clássico esquema de "jogo ganho desde o começo.


Não era difícil, de verdade: imagine algo parecido com um show de qualquer banda veterana dos anos 1980 (Paralamas, Barão, Capital e congêneres) para uma plateia a fim de festa e você terá a receita do sucesso. Sucesso esse que se alternou entre petardos românticos (a já citada "Circo de Feras", um pop oitentista de primeira linha, e "Para Ti Maria"), críticas à Troika (instituição que fiscaliza as contas de Portugal nesses tempos de crise) e rocks rápidos e rasteiros ("Dia de S. Receber" e a singela "Minha Casinha"). 



Entretanto, uma noite da Queima das Fitas é muito mais que apenas um show: é, na verdade, um festival de porte médio (o DataNoa, instituto coligado ao Pergunte ao Pop, afirma pelo chutômetro que a Praça da Canção abrigava cerca de 10 mil pessoas no sábado). Além do palco principal (onde ainda se apresentaria o Linda Martini, outra banda forte de Portugal), o evento contava com três tendas eletrônicas, bares & restaurantes (sem fila, oferecendo desde fast food até pratos típicos portugueses, como o Bolo do Caco (um pão da Ilha da Madeira) e a bifana, lanche com um filé de porco) e um palco alternativo curado pela Rádio Universitária de Coimbra (a RUC).

Nesse palco, aconteceu a maior surpresa da noite: o americano R. Stevie Moore. Desconhecido pela platéia (demorei a saber o nome dele perguntando entre os presentes), o multi-instrumentista parecido com o Pai Natal Papai Noel causou alvoroço com seu som experimental. Dono de uma discografia de mais 400 álbuns, lançados desde os anos 1960, o artista causou com um guitar rock porreiro, entre canções cheias da barulho, recitais de poesia ao melhor estilo performático e até um voluntário strip-tease sem xurumelas, atraindo duas centenas de cabeças curiosas e impávidas. 

Outra coisa bacana da Queima das Fitas é o espaço para a tradição: as noites do evento são sempre encerradas com a participação das tunas. Tuna? Explicamos: tratam-se de grupos musicais universitários que misturam canções tradicionais portuguesas, dança e alguma percussão, sempre evocando o amor, a saudade e a amizade entre os convivas universitários. É bacana, é bem típico, e dá pra vocês sentirem o que é vendo o vídeo abaixo, da Estudantina de Coimbra. 



No saldo geral, a Queima das Fitas é um rolê altamente recomendável. É divertido para entender um pouco mais sobre os jovens portugueses, mas também para quem quiser apenas uma noite de festa, com estrutura de primeira linha. Diga-se de passagem: por apenas 8 euros (mais ou menos 20 reais) para o ingresso de estudante, e 13 para a inteira, é um festival com organização superior a qualquer evento semelhante no Brasil, à exceção do Planeta Terra. Para quem estiver em Portugal por esses dias, vale a dica: a próxima semana reserva um DJ set de Maxim Reality, do Prodigy (dia 9) shows de Gogol Bordello (dia 10), Capitão Fausto (dia 9) e Amor Electro (dia 9). 

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