13 de fev. de 2012

Tabelinha

Nessas férias, terminei de ler dois livrinhos bacanas que me acompanharam durante o mês de janeiro entre viagens de metrô e aqueles breves minutos antes de dormir. Feito uma dupla de atacantes escolhidos ao acaso, Futebol ao Sol e à Sombra, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e Fome de Bola - Cinema e futebol no Brasil, do jornalista Luiz Zanin Oricchio, acabaram fazendo muito sucesso/sentido quando trabalharam em conjunto. Cada um à sua maneira, ambos traçam perspectivas interessantes sobre a história do esporte bretão que floresceu tanto por aqui.

Como diz o nome, Fome de Bola se dedica a falar de como o futebol foi retratado nas telonas (e, às vezes, nas telinhas) brasileiras. Entretanto, Zanin, que é colunista de do jornal O Estado de São Paulo, não se limita a falar sobre a sétima arte, contextualizando e contando a trajetória do ludopédio no país - o que faz com quem não sabe nada sobre o esporte se sinta confortável para entender as relações que o crítico traça. Em um texto muito bem humorado, Zanin mostra as conexões entre os dois temas, e, além disso, as relações deles com a política do momento.

Diz ele: "por exemplo, Alma e Corpo de uma Raça registra os devaneios nacionalistas e de eugenia da Era Vargas; Garrincha e A Falecida discutem uma suposta função alienante do jogo, Pra Frente Brasil revela a sua utilização política, Boleiros mostra seu rosto humano e também sua face dura. (....). Estilisticamente, cada filme é típico de sua época: o melodrama dos anos 30, o cinema-verdade dos anos 60, o verismo de espetáculo dos anos 80, a diversidade de poéticas dos 90 e 2000". Ao final do livro, ainda aparecem entrevistas bacanas com alguns cineastas (Ugo Georgetti, Luiz Carlos Barreto, João Moreira Salles) e com Pelé, às vésperas do lançamento de Pelé Eterno, de Aníbal Massaini Neto.


Futebol ao Sol e à Sombra, por sua vez, é um relato literário-jornalístico, carregado do lirismo de Galeano. É um livro bacana pra quem tiver interessado em uma introdução sobre o futebol argentino e uruguaio, ou em uma história da bola bem-humorada. Galeano, como seria de se esperar, é um crítico ferrenho da mercadorização do esporte (a certa altura do livro, ele diz, por exemplo, que na Copa do Mundo de 2006 "a Puma triunfou sobre a Adidas e a Nike").

Ele se dedica também a contextualizações bacanas de cada mundial (a frase "fontes bem informadas de Miami dizem que Fidel Castro cairá nas próximas horas" aparece uma meia dúzia de vezes, se tornando numa gag especial do livro) e um bocado de paixão ao descrever cenas de gols e destacar certos jogadores especiais, como Pelé, Roberto Baggio, Maradona, Cruyff, Beckenbauer, Platini ou Domingos da Guia. Outra coisa bacana foi descobrir, através de Galeano, que a bicicleta que nós acreditamos ter sido inventada por Leônidas da Silva, é na verdade a "chilena", de autoria de Ramon Unzaga.

Se interessou? Mais uma parte boa: os dois livros são naquele esquema classe-média-baixa-editores: o de Galeano não custa mais que 20 dilmas por aí, e Fome de Bola pode ser baixado gratuitamente no site da Imprensa Oficial, responsável pela Coleção Aplauso, que reúne títulos sobre cinema, teatro e televisão no Brasil.

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