20 de jul. de 2011

"Maturidade é Só Uma Fase"

Pare um momento e pense, caro leitor: o que você fazia seis anos atrás? Como eram seus pensamentos, com que pessoas você andava, como você se expressava para o mundo? Que tipo de músicas você ouvia? Pensou? Então tá ok. Provavelmente algumas coisas continuam iguais, mas muito em você mudou - especialmente se você era um adolescente em 2006 e hoje já é tido como um adulto. Tendo em vista essa "perspectiva histórica", dá para se entender melhor a cabeça de Alex Turner e seus companheiros do Arctic Monkeys, que acabam de lançar seu quarto petardo, Suck It And See.

Whatever People Say, That's Not What I Am, trabalho de estreia da banda, primava por uma urgência poucas vezes vista anteriormente, especialmente nas guitarras esporrentas que passeiam pelo álbum - mas já revelava no vocalista uma força para descrever situações de maneira muito peculiar ("When the Sun Goes Down", "A Certain Romance") ou jogar seu charme característico ("I Bet That You Look Good on the Dancefloor"). Favourite Worst Nightmare, que veio a seguir, exibia alguns avanços. A energia costumeira predomina no álbum, mas pela primeira vez também há espaço para baladas comoventes, como "Only Ones Who Knows" e "Fluorescent Adolescent". O terceiro disco, Humbug, por sua vez, trazia à tona um lado mais sério da banda, que foi produzida por Josh Homme, vocalista do Queens of The Stone Age. Porém, tratava-se de um conjunto musicalmente “difícil”, “pesado”, o que atrapalhava um bocado a absorção de boas letras, como “Crying Lightning” e “My Propeller”. Talvez um dos principais defeitos de Humbug é o de que pelo menos em suas camadas mais superficiais, ele remetesse demais à banda de Homme, de uma maneira que soa até irritante.

Em Suck It And See, porém, os macacos árticos vêm à tona menos ambiciosos, mais básicos, e mais diversos - e acabam por cometer um grande álbum. Se antes havia dúvidas, hoje já é possível afirmar com alguma certeza que Alex Turner é um distinto herdeiro da linhagem de cronistas britânicos do rock’n roll – uma família que contém nomes honoráveis como Ray Davies, Morrissey e Jarvis Cocker. Um dos exemplos dessa veia é o olhar desapaixonado, maduro e realista, mas entristecido que preenche "Love is a Lasertag". Nela, Turner pergunta logo de cara, despedaçando corações: "Do you still feel younger than you thought you would by now?/Or darling have you started feeling old yet?". Ou também em "Piledriver Waltz", que já havia sido gravada com outro arranjo, acústico, para a trilha de Submarine, filme lançado na Inglaterra no começo do ano, mas sem previsão de lançamento para o Brasil.

Porém, maturidade não é sinônimo de austeridade ou seriedade. Alguns dos bons momentos do álbum vêm, por exemplo, do humor irônico da western-stoner “Don’t Sit Down Because I Moved Your Chair”, ou da letra nonsense e da melodia genchuda de “Brick by Brick”. Outro ponto alto é a inocência maliciosa – se é que isso existe – da faixa-título: "Suck it and see you never know/Sit next to me before I go/Jigsaw women with horror movie shoes/Be cruel to me cos I'm a fool for you". Isso tudo pra não falar dos muitos coros que permeiam Suck It And See, e que ficam na cabeça durante dias e dias, e na própria noção que a banda tem das relações sentimentais que suas músicas trazem. Por exemplo: em um certo momento, Turner divide seus sentimentos com seus ouvintes: “I put my heart into a pop song”, canta ele em “Suck it and See”.

Curioso é dizer que o melhor do álbum, na verdade, está em seu começo. A dobradinha "She's Thunderstorms" e "Black Treacle" tem em si o crème de la crème do disco. Ambas são canções pegajosas - no bom sentido da coisa, é claro - por seus bons refrões, e por detalhes que fazem a diferença: na primeira, é a marcante linha de baixo condutora; na segunda, a boa participação da guitarra solo. Servem como dois lados de uma moeda ao mostrar o êxtase e a desilusão com o amor, oportunidades ótimas para Turner destilar sua poesia - há algo de especial, não só no significado, mas também na sonoridade da frase "She's been loop/the looping around my mind", de "She's Thunderstorms", pra citar apenas um exemplo.

Talvez Suck It And See não seja o disco mais ousado do Arctic Monkeys – trata-se mais de um momento de consolidações de algumas ideias que vinham quicando na área dos ingleses desde Favourite Worst Nightmare e ainda não tinham sido chutadas para o gol. É, com certeza, o disco mais bonito e mais bem resolvido do quarteto britânico: no que os outros discos pareciam um bocado repetitivos, ou tinham certas arestas a aparar, neste tais problemas passam longe de acontecer. Pois é, seis anos passam rápido: do hype de 2006 a um dos mais bonitos discos – até agora – de 2011, muita coisa pode ter mudado. Mas no fundo, a paixão e o talento ainda são os mesmos – como diria André Takeda, “maturidade é só uma fase”. Bem vindos à idade adulta, Arctic Monkeys.

Um comentário:

  1. amei as observaçoes que você fez. As emoçoes que as musicas desse cd passam sao incriveis.O Arctic faz refletir poetiza e emociona. tudo ao mesmo. perfeito.
    jessyca santos.

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