25 de jul. de 2011

Dois é Pouco


Não é surpresa para ninguém, mas ninguém mesmo - a menos que esse alguém tenha passado os últimos vinte anos em Marte – que a Pixar é um dos grupos mais interessantes do cinema feito hoje em dia. Desde o começo da parceria com a Disney em Toy Story, já se vão mais de quinze anos dedicados à produção de animações que atingem em cheio não só crianças, mas sim o público de todas as idades. Em 2011, a empresa entrega a seus espectadores mais um produto de sua fornada: Carros 2. A sequência da película de 2006 protagonizada pelo bólido Relâmpago McQueen pode não ser o melhor filme do gênero da temporada, mas passa longe de decepcionar.

Assim como em outros filmes do estúdio americano, Carros 2 também é um filme de homenagens. Se em Toy Story o foco era nos filmes de western e de ficção científica, Os Incríveis lidava com os desenhos de super-heróis dos anos 60 e muito das paisagens de Procurando Nemo era uma clara menção aos documentários de Jacques Costeau, aqui as bolas da vez são os filmes de James Bond. O leitor deve estar se perguntando: "Ué, mas não era essa uma série sobre carros de corrida e o passado mítico das estradas americanas, antes do aparecimento das auto-estradas?".

Pois bem, essa é a brincadeira da trama: de férias após ganhar mais uma Copa Pistão, Relâmpago McQueen é desafiado por Francisco Bernoulli, um arrogante carro de corrida italiano, a participar do World Grand Prix - uma competição patrocinada por um magnata do petróleo recém-convertido em ambientalista e promotor de um combustível renovável, o Alinol. É justamente esse campeonato que faz McQueen e seu fiel companheiro Mate rodarem o mundo, e, nesse meio tempo, Mate acaba por ser confundido com um agente secreto americano - uma menção a Intriga Internacional? - passando assim a fazer parte da equipe de Finn McMissile (dublado por Michael Caine), um dublê de James Bond com toda a fleuma possível.

A trama de espionagem acaba trazendo alguns pontos novos ao filme. Um deles é o de que Mate acaba por "roubar a cena" de Relâmpago, pois o roteiro centra-se mais na sua figura do que na própria competição automobilística. Em um primeiro momento, tal distanciamento é muito atraente, mas em uma determinada parte do longa, parece que o roteiro até se esquece de que existe um pano de fundo de campeonato por trás das armações e espionagens. A segunda é o frenesi que domina a tela durante a segunda metade da película - algo que é necessário para chamar a atenção das crianças, mas depois de certo tempo, acaba cansando um pouco. Entretanto, nada que se perca: os adultos, por sua vez, ficam com o charme de entender certas piadas - o que dizer, por exemplo, da aparição do papa dentro do papa-móvel?

Cabe ainda ressaltar a salutar diferença de perspectiva entre as duas películas da série. Se na primeira havia toda uma preocupação com o passado perdido, e o ritmo frenético que a vida tomou nos últimos anos, aqui a ideia é olhar diretamente para o futuro. A batidíssima discussão sobre combustíveis sustentáveis e o futuro do planeta aparece mais uma vez aqui, colocando na cabeça dos pequenos ideias sobre o problema que é continuar consumindo combustíveis fósseis - mas, de uma maneira que não cansa o espectador que acompanha os telejornais e documentários sobre o assunto. Outro bom ponto de Carros 2 é a boa dublagem, seja no original, seja em português - a segunda contém com as participações mais que especiais de Emerson Fittipaldi, como um famoso carro de corrida, Luciano do Valle e José Trajano - respectivamente, nos papéis do narrador bonachão e do comentarista ranzinza das corridas do World Grand Prix.

Ao final de seus 106 minutos de duração, Carros 2 deixa uma boa impressão em quem o vê. É um filme que vale o ingresso, indubitavelmente. Entretanto, é pouco. Parece que este é mais um investimento hollywoodiano em uma sequência, buscando ter lucro fácil em cima de personagens consagrados. A Pixar – a fantástica fábrica de filmes – pode mais.

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