3 de mai. de 2011

Brincando de Fazer Música

Uma das melhores estreias do ano passado foi a da banda gaúcha Apanhador Só, em seu disco homônimo. Trafegando com elegância entre o indie rock dos anos 90 e a música brasileira, o grupo fez um belo trabalho brincando com doses de poesia à moda de Manuel Bandeira e Mário Quintana. Em 2011, eles retornam com Acústico Sucateiro, conjunto de canções boladas para ser distribuída pela internet ou em uma fita K7 - o sabor de nostalgia, obviamente, é por conta da casa. Ao regravar suas boas canções do primeiro disco, a banda não faz feio - e vai além com algumas ideias que propôs anteriormente.

O nome do disco - pra você que deve estar se perguntando, leitor incauto - vem do fato da banda não se ater somente a instrumentos convencionais ao construir suas canções: assim, ao lado dos violões (aqui em substituição às guitarras), aparecem utensílios como bicicleta, sacola de supermercados, molho de chaves, e faca de cozinha com chave de fenda. Esse arsenal de "ferramentas musicais e brinquedos", unidas a diversos coros em tom alegre, amplia a atmosfera lúdica da Apanhador Só, dando margem para novos arranjos e leituras das canções da estreia. Além disso, utilizar instrumentos não convencionais, a banda traz à tona a discussão sobre “com o que de fato pode se fazer música?” – algo que o Pato Fu fez também em seu Música de Brinquedo, no ano passado. (Para os leitores apressadinhos, a resposta é: “com qualquer coisa, desde que exista criatividade”).

Aqui, isso pode ser conferido em diversas faixas: a noisy "Jesus, o Padeiro e o Coveiro" ganha tons de trilha sonora de filme western, a balançada "frevo-rock" "Maria Augusta" vira um funk carioca com o auxílio de um tecladinho de brinquedo e a guitarreira "Um Rei e o Zé" vira uma bonita bossa. A nostálgica e dor-de-cotovelo "Bem-me-leve" ganha um tom mais idílico (e triste) acompanhada de violões e da percussão extravagante, enquanto "Peixeiro" fica mais leve, com direito até à desafinação dos vocais. Também vale comentar a nova "Na Ponta dos Pés", uma curta declaração de amor - a canção tem apenas três versos - mas também muito bonita e singela ("Ei, você: você me deixa na ponta dos pés").

Ano passado, ao comentar Apanhador Só, o disco, encerrei meu texto com as linhas que vem a seguir. Ele também vale para este Acústico Sucateiro que, em resumo, fez a banda melhorar o que já tinha de bom: seu aspecto descontraído de fazer música, compromissado apenas com a satisfação do ouvinte. "Só me resta dizer uma coisa: para o frio tenebroso que se anuncia para os próximos meses, parece não haver lançamento recente melhor para te deixar com um sorriso bobo no rosto e aquecer seu coração do que esse disco da Apanhador Só".

2 comentários:

  1. Foram audições consecutivas [só para começar] com as quais fui do riso ao choro. Comovida com a qualidade dos artistas e sua capacidade de releitura da própria obra que se transformou não em uma segunda outra em inifinitas.

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  2. Eles são sensacionais! E essa resenha ficou a altura. Não é pra qualquer um revisitar a propria obra em menos de um ano e conseguir se superar...

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