2 de abr. de 2011

Geração X ou Geração Y?

Um dos mais famosos "conceitos" a respeito do rock'n roll é que, a cada década, sons de 20 anos antes são revisitados a todo o momento: talvez isso tenha começado nos anos 80 brincando com o arsenal lisérgico dos anos 60 (quem aí se lembra do Echo & The Bunnymen fazendo covers de Doors - "People Are Strange"- e Beatles - "All You Need is Love"?). Essa ideia de revisita ficou evidente no grandioso revival que os anos 80 sofreram na década passada, no qual a maioria das bandas que se prezavam - e mais algumas que nem tanto - chupinhavam sem dó riffs e frases musicais de New Order, Gang of Four, Joy Division, Smiths e companhia limitada. Todo esse blábláblá é só pra dizer que a ideia da "viagem no tempo de 20 anos" continua presente nos anos 2010. O álbum de estreia dos londrinos do Yuck, autointitulado, é uma perfeita jornada por muitos dos moldes do rock alternativo dos anos 90.


Entretanto, ao contrário do que se pode supor, a obra dos londrinos (Daniel Blumberg e Max Bloom, guitarra e vocais; Mariko Doi, baixo; e Jonny Rogolft, bateria) é muito mais uma imersão no universo musical da década final do século XX do que exatamente um punhado de citações perdidas por aí. (Nota enciclopédica: a geração dos anos 90 é popularmente conhecida como Geração X, em homenagem ao livro de Douglas Coupland). Uma das provas disso é que, apesar de determinadas melodias terem a cara de um cantor ou artista em especial, as guitarras sujas lembram a de outro, o vocal de um terceiro e o arranjo um quarto: não se trata de simples colagem. Mas, se for pra citar semelhanças, vamos logo a elas:


"Sunday" é uma balada powerpop com tons agridoces de saudade ("Cold winter months, and I'm thinking of you/How you're not with me?"), lembrando os discos com menos distorção do Teenage Fanclub ou ainda o Lemonheads de Evan Dando. Já "Suicide Policeman" vai buscar na figura do saudoso Elliott Smith inspiração para a história de alguém que tenta a todo custo evitar o suicídio de um amigo. Com os bonitos vocais de Ilana Blumberg, "Georgia" soa como a "noisificação" do Belle & Sebastian, ou ainda um tributo ao Ride (vale comparar o riff inicial da canção do Yuck com o de "Twisterella").

A faixa final do disco, "Rubber", é, por sua vez, uma homenagem aos longos e etéreos solos de guitarra de Ira Kaplan nos discos do Yo La Tengo. Durante todo o álbum, aparece com constância a influência de outros guitar-heros dos anos 90, sobretudo a de J. Mascis. Em uma canção como "Get Away", por exemplo, é possível sentir sua vibração por toda a música, que também é marcada por uma condução que remete ao Smashing Pumpkins. Porém, nenhuma música do disco é melhor para ser comentada a respeito de suas guitarras que "Operation": nela, parece que Bloom e Blumberg duelam com suas guitarras em fraseados ganchudíssimos (é quase inevitável brincar de air guitar enquanto se escuta a canção, para ser sincero).

O site urbandictionary.com, referência no uso de gírias em inglês, registra diversos significados para a palavra "yuck", a maioria deles com acepções como "coisa sem importância", "uma substituição educada para a palavra fuck", "algo grosseiro, irritante ou nojento", "um termo para algo não popular e feio". É claro que é cedo para se fazer quaisquer previsões a respeito do futuro da banda, ou algo parecido. Mas, com Yuck, a banda inglesa chuta para longe todos os significados pejorativos do termo "yuck", faz belas canções, entra na briga pelo troféu de "melhor disco do ano" (mas já?) e, de quebra, coloca os anos 90 na ordem do dia. Não é pouca coisa.

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