8 de fev. de 2011

Faltando Um Pedaço

Gostar de um filme (ou não) muitas vezes é algo mais relacionado com a expectativa que se tem sobre ele do que exatamente sobre o próprio filme. Quantas vezes já não fomos arrebatados por filmes totalmente despretensiosos - os "independentes" americanos costumam ser um bom exemplo disso - ou saímos achando que perdemos duas horas de nossas vidas em cima de um grande hype? Ou algo como aquele filme fantástico que o seu amigo falou e você não achou graça em nada? É mais ou menos nessa atmosfera nebulosa de ansiedade e entrega que se encontra Um Lugar Qualquer, o novo filme da primeira-filha-de-Hollywood, Sofia Coppola.

Os prognósticos eram bons: circulava na Internet há dias a versão demo de "You Only Live Once" dos Strokes que foi resgatada para a trilha sonora, e a fita ganhou o Festival de Veneza em 2010 (ainda que más línguas digam que isso seja mais obra do antigo namoro da diretora com o presidente do júri, Quentin Tarantino). Porém, como diz o velho ditado: "a alta expectativa é quase sempre do tamanho da decepção".

Não que a película, que fala sobre o ator trintão (Stephen Dorff) que se vê sozinho num quarto de hotel e tem de cuidar da filha (Elle Fanning,) seja exatamente ruim. Ele só atrai mais aos olhos e aos ouvidos do que ao coração e à cabeça. É um filme plasticamente muito bonito, com paisagens deslumbrantes e carros velozes. A trilha não passa despercebida: além da já citada demo do Strokes, a deliciosa cover de Bryan Ferry para "Smoke Gets In Your Eyes", “So Lonely” (Police) e as competentes canções do Phoenix, banda do marido de Sofia. Isso sem falar em "My Hero", do Foo Fighters.

Mas essa última merece especial atenção: tocada logo numa cena inicial, talvez seja sintomática ao definir o "vazio" de Um Lugar Qualquer. Enquanto duas go-go dancers bailam em seus mastros ao som da banda de Dave Grohl - em explícita sensação de movimento - , o protagonista Johnny Marco (Dorff) simplesmente se mostra apático, inativo, dormente, como se nada lhe incomodasse, excitasse ou perturbasse.

Essa sensação de inabalável imobilidade se mantém ao longo de todo o filme - seja nas visitas da filha, nos breves relacionamentos que mantém, ao dirigir sua Ferrari por Los Angeles ou nas anônimas e pouco elogiosas mensagens que recebe em seu celular. Quando finalmente percebe o buraco em que se meteu, e procura alguma redenção, Marco o faz de uma maneira tão difusa que até pode passar despercebida para o espectador. É como se faltasse um pedaço no meio da história para conquistar o coração de quem vê o filme.

Trata-se de pouco, muito pouco, para quem já fez um filmaço como Lost in Translation e que poderia ter tanto a dizer sobre "nascer e crescer em Hollywood". Best luck next time, ms. Coppola.

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